Guia para identificação de surtos na esclerose múltipla
O que é um surto de esclerose múltipla?
Cerca de 85% dos pacientes com esclerose múltipla são diagnosticados com a forma remitente-recorrente, caracterizada por períodos de estabilidade intercalados com surtos, que são momentos em que novos sintomas neurológicos aparecem ou sintomas neurológicos antigos se agravam.
O surto é um evento neurológico agudo, ou seja, um sintoma que se desenvolve ao longo de horas, podendo progredir por alguns dias, e que dura mais de 24 horas. Diferente de eventos súbitos, como um AVC, o surto geralmente evolui de forma gradual, e pode piorar progressivamente antes de estabilizar.
Para ser considerado surto, é necessário:
– Duração mínima de 24 horas;
– Ocorrência após pelo menos 30 dias do surto anterior;
– Ausência de febre ou infecção ativa.
O surto reflete atividade inflamatória no sistema nervoso central e requer avaliação médica para confirmação diagnóstica e decisão sobre tratamento.
Exemplos de sintomas que podem indicar um surto:
– Perda ou alteração da visão em um dos olhos (ex: neurite óptica)
– Fraqueza em um ou ambos os braços ou pernas (incluindo fraqueza de um lado do corpo, como braço e perna do mesmo lado)
– Dormência ou formigamento em parte do corpo
– Tontura e/ou desequilíbrio
– Visão dupla
– Incontinência urinária e/ou fecal nova ou piora importante
– Sensação de choque ao movimentar o pescoço (sinal de Lhermitte)
O que é um pseudossurto?
O pseudossurto é a reaparição temporária de sintomas antigos da esclerose múltipla. Ele não representa uma nova atividade inflamatória da doença e geralmente está relacionado a algum fator desencadeante, como febre, infecção urinária ou respiratória, calor, estresse emocional, cansaço extremo ou privação de sono. Os sintomas costumam desaparecer espontaneamente com o controle da causa.
O que são os sintomas paroxísticos da esclerose múltipla? Eles são surtos?
Os sintomas paroxísticos são manifestações neurológicas que surgem de forma rápida, duram segundos ou minutos e podem se repetir várias vezes ao longo do dia. Apesar de estarem relacionados à esclerose múltipla, não são considerados surtos, pois não preenchem os critérios de duração nem de progressão inflamatória.
Características:
– Início súbito, duração curta
– Episódios repetitivos
– Podem ser desencadeados por movimento, estresse, calor
– Ex: espasmos, visão dupla transitória, sensação de choque elétrico
É necessário fazer ressonância magnética na suspeita de surto?
O diagnóstico de surto é clínico, feito com base na avaliação neurológica. Isso significa que o neurologista identifica o surto por meio da história dos sintomas e de um exame físico detalhado, sem necessidade obrigatória de exames de imagem.
A ressonância magnética pode ser útil em situações específicas, especialmente quando os sintomas são pouco claros ou quando se deseja documentação objetiva da atividade inflamatória. Sua indicação deve ser individualizada pelo médico.

Dúvidas frequentes sobre ressonância e pulsoterapia
Se for necessário fazer ressonância magnética, devo realizar antes ou depois da pulsoterapia?
Sempre que possível, a ressonância deve ser feita antes da pulsoterapia, pois os corticoides podem reduzir o realce das lesões com contraste.
A pulsoterapia altera o resultado da ressonância?
Sim. A metilprednisolona endovenosa pode suprimir o realce das lesões ativas com contraste, dificultando a visualização da inflamação em atividade.
Quanto tempo leva para o corticoide fazer efeito?
A ação anti-inflamatória do corticoide utilizado na pulsoterapia costuma começar entre 24 a 72 horas após o início do tratamento. Alguns pacientes já percebem melhora nos primeiros dias, enquanto outros evoluem de forma mais lenta.
A recuperação clínica pode progredir ao longo de semanas, com pico de melhora geralmente entre 2 a 4 semanas. No entanto, em alguns casos, a melhora continua a ocorrer por até 3 meses após o surto.
É importante entender que o corticoide não regenera a mielina, mas reduz a inflamação e acelera o processo de recuperação que será promovido pelo próprio sistema nervoso. Portanto, a ausência de melhora imediata não significa, necessariamente, falha do tratamento.
O tratamento do surto é realizado por pulsoterapia, ou seja, administração de corticoide em altas doses por via endovenosa, geralmente por 3 a 5 dias. O objetivo é antecipar a melhora clínica dos sintomas. A pulsoterapia não altera o curso da doença a longo prazo, mas acelera a recuperação funcional após um surto.
Todo surto precisa ser tratado com pulsoterapia?
Nem todo surto exige pulsoterapia. A decisão depende da intensidade dos sintomas, do impacto funcional e da evolução clínica observada. O neurologista avaliará individualmente a necessidade de tratamento com base no quadro apresentado.
Posso tomar corticoide oral para o tratamento do surto?
Não. O corticoide oral não atinge as concentrações adequadas no sistema nervoso central para tratar surtos. Além disso, os estudos disponíveis utilizam metilprednisolona endovenosa como padrão terapêutico. Por isso, a pulsoterapia com corticoide intravenoso é o tratamento recomendado.
Por que usamos o termo “surto” na esclerose múltipla?
No senso comum, a palavra ‘surto’ pode remeter a episódios psiquiátricos, mas no contexto da esclerose múltipla ela tem outro significado. Trata-se da tradução do termo médico ‘relapse’, usado para descrever um episódio clínico agudo da doença. O termo foi adotado pela comunidade médica para representar uma fase de atividade inflamatória, e não está relacionado a comportamentos ou condições psiquiátricas.

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